“Corações Sujos” vira filme!

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Capa do livro escrito por Morais. Na foto, os "sete heróis" de Tupã, logo após deixarem a cadeia de Marília. Para entender, só lendo a obra. Leitura altamente recomendada

Se fosse possível criar um “Top 10” com os melhores livros lidos, Corações Sujos estaria na minha lista dos livros brasileiros.

Brilhantemente escrito por Fernando Morais, a história da seita japonesa Shindo Renmei agora será transformada em filme por Vicente Amorim, diretor de “O Caminho das Nuvens”, com Wagner Moura, e “Um Homem Bom”, estrelado pelo norte-americano Viggo “Aragorn” Mortensen.

Com filmagens previstas para começar em março de 2010, “Corações Sujos” já está em pré-produção e conta com a participação de integrantes da equipe que criou o drama “Cartas de Iwo Jima”, de Clint Eastwood. As filmagens acontecerão em Paulínia (SP) e o filme tem orçamento de R$ 8 milhões.

Em entrevista para o Uol, Vicente Amorim contou que a maioria dos diálogos será em japonês, com adaptação de Yuki Ishimaru, responsável pelos diálogos de “Cartas de Iwo Jima”. “Corações Sujos” terá novamente o ator Wagner Moura, mas o elenco será predominantemente japonês, para que as falas sejam perfeitas e o elenco atraia o público nipônico, já que o filme também está sendo comercializado no Japão.

Corações Sujos conta a história da Shindo Renmei, ou “Liga do Caminho dos Súditos”, uma seita nacionalista japonesa que nasceu em São Paulo logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e aterrorizou a colônia de japoneses no Brasil. Seus seguidores acreditavam que a notícia da rendição nipônica não passava de um golpe de propaganda dos aliados para acabar com o orgulho dos japoneses e não aceitavam o fato de que o Japão havia sido derrotado. Com isso, em poucos meses, os mais de 200 mil imigrantes que viviam no Estado de São Paulo estavam divididos entre os kachigumi, os “vitoristas” da Shindo Renmei, apoiados por 80% da comunidade japonesa no Brasil, e os makegumi, ou “derrotistas”, apelidados de “corações sujos” pelos militantes da seita.

Organização militarista e seguidora cega das tradições de seu país, a Shindo Renmei declarou guerra aos “corações sujos” pela acusação de traição à pátria pelo crime de acreditar na verdade – ou seja, que o Japão havia se rendido – e passaram a perseguir e assassinar os “derrotistas”. Em pouco mais de um ano, entre 1946 e 1947, os matadores da Shindo Renmei percorreram o Estado de São Paulo realizando atentados que levaram à morte 23 imigrantes e deixaram cerca de 150 feridos.

O que me chamou a atenção da primeira vez que li o livro – e que me fez pensar em tragicomédia – são os relatos de algumas emboscadas que não deram certo. Os integrantes da Shindo Renmei planejavem tudo direitinho, mas na hora da execução alguma coisa boba dava errado e o plano homicida acabava frustrado. Seria cômico se não fosse trágico.

Mas o livro é um belo relato de uma pequena parte da história nipo-brasileira que poucos conhecem. Mesmo quem não é descendente de japoneses, como eu, ficará tentado a colocar este livro entre os melhores já lidos. E enquanto fico na torcida para que o filme faça juz à história, tento decidir se leio Corações Sujos pela quarta vez.

11 comentários em ““Corações Sujos” vira filme!

  1. Olá, Érica e internautas

    Aconselho vocês fazerem uma boa pesquisa na net sobre o tema Shindo Renmei para uma leitura mais crítica da obra do Fernando Morais (que tem seus méritos jornalísticos…). Um fato tão importante e complexo da História do Imigrantes japoneses está muuuito longe de se esgotar (explicar??) em uma obra como “Corações Sujo~”. Temo pelo filme…

    abs

    Rogério

    1. Rogério, concordo com você. Acho difícil uma única obra englobar todos os aspectos de uma história real. Mas o livro do Morais é um bom começo para instigar a curiosidade. Vejamos o que acontece com o filme… Dedos cruzados!
      Obrigada pela visita e pelo comentário!

    2. caro Rogério, sou jornalista, moro em Brasília e pesquiso para um livro que envolve a imigração japonesa. Gostaria de trocar ideias contigo. Qual o email com que posso me comunicar contigo?

  2. Comprei o livro hoje, depois de anos e anos pretendendo ler, mas com a velha desculpa da falta de tempo. Comecei a pesquisar sobre o livro porque ao ler um trecho meu senso crítico ficou em modo “on”. Pensei antes de ler este blog: “Puxa, poderia ser feito um filme!” Espero que, tanto o filme quanto o livro, consigam retratar bem a real, complexa e melindrosa história da imigração japonesa.

  3. Estou trabalhando no filme, no começo não estava entendendo nada, mas a cada dia que passava fui me aprofundado na hietória e descobrindo um pouco mas do filme,e despertou uma curiosidade que esta me levando a ler o livro,apesar que ver a historia contada e mostrada na tela é mas facil do que ler o livro parabéns pelo filme e tou ancioso para ver ele na tela

  4. O filme é sensacionalista e reducionista.
    Para entender melhor o que foi a shindo renmei, assim como a toko tai e outros grupos nipônicos, aconselho ler as obras de Rogério Dezem ou de Tomoo Handa. Somente pouquíssimos japoneses eram “assassinos”, enquanto que a esmagadora maioria era composta por gente simples, que não tinha nenhum acesso a informações da guerra, se deixando, nuitas vezes se enganar por escritos falsos publicados pelos fanáticos.
    Espero que o filme mostra o outro lado, de quando oficiais do DOPS (isso mesmo, aquele mesmo órgão utilizado pela ditadura militar) expôs imigrantes ao ridículo, os insultou, fê-los CUSPIR A PRÓPRIA BANDEIRA, etc.
    Mas é isso… A história é contada pelo lado vencedor…

    1. Calma, Rafael, o filme ainda nem foi lançado! Vamos esperar para ver como a história será contada nas telas, porque, pelo livro no qual o filme foi baseado – Corações Sujos, de Fernando Morais -, a impressão que temos é que, realmente, foram poucos os japoneses que atentaram contra a colônia, e que a maioria deles não tinha acesso a informações outras que não fossem aquelas repassadas pelos próprios japoneses – entre eles, aqueles que não acreditavam que o Japão havia se rendido e espalharam a falsa notícia de que o arquipélago havia ganhado a guerra, o que causou confusão entre os nipônicos que moravam no Brasil na época.
      Agradeço o seu comentário e, principalmente, as dicas dos dois autores – vou procurar por livros deles agora mesmo! Valeu!

    2. Olá, procurando saber mais sobre a filmagem da obra, encontrei este blog. Observando os comentários, vejo que todos possuem aspectos relevantes. Uma coisa é certa: nem todos eram assassinos. Um dos participantes é tio da esposa do meu primo. Pessoa simples, que dentro de um contexto da época foi envolvido. O pior é que foi banido da família! Esta geração só tomou conhecimento do caso, através da noite de autógrafo do Fernando Morais em Florianópolis.

      Como professora de História, não posso deixar de registrar que tal fato deve ser realmente mais aprofundado. Tal situação não ocorreu somente no Brasil. A expressão de sentimento nipônico vai muito além do nosso entendimento prático de uma obra. No meu caso a obra, está muito próxima pelo envolvimento com a família (Hashimoto).

      O mérito do livro se encontra na questão pouco discutida no Brasil. Para contribuir com os autores já citados pelo Vergo, eu indicaria um vídeo (Haru e Natsu:as cartas que não chegaram) que mostra o shindo renmei. O importante é aprofundar esta questão, e isto só será obtido através de leituras.

      OBS: Acredito que teremos um excelente material (vídeo) para discutirmos as questões convergentes e divergentes do tema.

      Parabéns pelo blog e pelo espírito democrático de opiniões.

  5. Li este livro ha 8 anos atras e fiquei absolutamente apaixonada pela historia. Maravilhoso saber que esta sendo produzido para as telas. Espero que seja um grande sucesso. Parabens!!!!!!!!!!!

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