Em um passado-não-muito-distante, a coisa mais legal do mundo era conseguir ver seu ídolo de perto, conseguir um autógrafo, uma palavra, um abraço. Que sonho!
Com a popularização das câmeras, aquelas ainda com filme, a coisa mais legal do mundo passou a ser conseguir tirar uma foto de seu ídolo, nem que fosse do topo da cabeça dele (olha, é o cabelo dele aqui no cantinho, juro!!), uma foto borrada que fosse (ele passou tão rápido, mas dá pra ver que é ele!!), desde que se conseguisse um registro do amado ídolo. E, quem sabe, melhor ainda!, conseguir uma foto COM ele – desde que alguém tirasse pra você, pois acertar o enquadramento e o foco com uma câmera analógica era meio loteria.
Pouco depois vieram as câmeras digitais portáteis e tudo ficou mais fácil. Sem muitos limites e com menos gastos, fotografar passou a ser banal. Então, todo mundo passou a prestar mais atenção no que se fotografa e se filma do que se importar em participar do momento em si – como é comum ver em shows, com aquele mar de celulares filmando (muito mal) tudo.
Agora, com os celulares e suas selfies, as pessoas fazem tudo isso ao mesmo tempo: chegam perto do ídolo, tiram várias fotos dele e outras com ele – sem se importar em realmente aproveitar o momento, tentar conversar com a pessoa, fazer uma pergunta, um elogio. Tudo tem e deve ser registrado. Mesmo que para isso você fique de costas para o seu ídolo.
UPDATE (28.9) – segundo porta-vozes da campanha de Hillary Clinton, ela mesma “sugeriu que todos poderiam fazer uma selfie grupal e posou para a multidão”. Segundo esta matéria, em um vídeo amador do encontro, pode-se ouvir a candidata dizendo “todos os que querem uma selfie, virem-se de costas agora”.
Ainda assim, vale a reflexão.